quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Polícia Federal liga José Sarney a desvio da Gautama

Do blog de Josias de Souza - Pendurada nas manchetes em maio de 2007, a “Operação Navalha” agora só aparece no noticiário de raro em raro. Mas, em silêncio, a investigação prossegue. A Polícia Federal continua empilhando provas contra Zuleido Veras, o dono da Gautama.

Zuleido comandava um esquema que fraudava obras públicas. O pedaço ainda inédito do inquérito reúne documentos de arrepiar. Num trecho do processo, o sobrenome Sarney irrompe com incômoda fluidez. Os detalhes foram trazidos à luz em reportagem de Otávio Cabral e Diego Escosteguy, de cujo trabalho as informações relatadas aqui foram extraídas. Entre as obras esquadrinhadas pela PF está a ampliação do aeroporto de Macapá (AP). Foi licitada pela Infraero no final de 2004, depois de um pedido de José Sarney a Lula.

Eleito senador pelo Amapá, o maranhense Sarney tem em Macapá, a capital do Estado, seu principal reduto eleitoral. Natural, portanto, que se empenhasse para dotar a cidade de um aeroporto mais bem aparelhado. O inusitado veio a seguir. A Gautama, construtora de Zuleido, sagrou-se vitoriosa na licitação da Infraero. Um certame fraudado, a PF acusa. O contrato embute, de acordo com a polícia, um superfaturamento de R$ 50 milhões.

A PF colecionou provas que permitiram farejar o rateio do butim. Há no inquérito, por exemplo, comprovantes de depósitos bancários, gravações de diálogos telefônicos e planilhas de pagamento de propina. Numa das planilhas, recolhida em batida policial na casa de Zuleido, anotou-se a derrama de R$ 500 mil em campanhas eleitorais do Amapá. A PF suspeita que o rateio tenha sido feito sob orientação de José Sarney, identificado na planilha de Zuleido com a sigla “PR” (presidente).

Há mais: a polícia informa que um personagem identificado como José Ricardo, lobista da Gautama, chegava mesmo a despachar no gabinete do senador Sarney. Há pior: segundo a PF, um dos encarregados de cobrar os óbulos da Gautama era Ernane Sarney. Vem a ser irmão do atual presidente do Senado. Ernane Sarney figura no inquérito como beneficiário de um depósito de R$ 30 mil de Zuleido.

Não é só. A voz do irmão do senador Sarney soa num dos diálogos captados por grampos telefônicos realizados pela PF. A conversa é de abril de 2007. Ernane Sarney falava ao telefone com tesoureiro da Gautama. Ele pediu dinheiro: “Vocês estão me enrolando. Já não estava tudo na mão? Eu tô com a corda no pescoço aqui, rapaz, o doutor também tá com a corda no pescoço”, queixa-se o irmão de Sarney.

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