segunda-feira, 8 de março de 2010

Articuladora do SMM-SP denuncia "feminização" do tráfico de pessoas


A articuladora do Serviço de Prevenção ao Tráfico de Mulheres e Meninas (SMM-SP), Priscila Deladone Pereira disse durante a Sessão Especial em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nesta segunda-feira, 8, no plenário da Câmara Municipal, que "quando a gente comemora e luta pelos direitos da mulher, nós estamos lutando pela humanidade toda".

Ela denunciou a "feminização" do tráfico humano, onde 98% dos traficados são melhores e crianças do sexo feminino.

"A questão do tráfico incide de forma muito brutal em cima do gênero. Hoje ele é o segundo crime no mundo que mais rende dinheiro, só perde para o tráfico de armas, a morte está no terceiro lugar.

O tráfico de pessoas rende U$ 32 bilhões anualmente no mundo. Segundo ela a questão do tráfico é como se fosse um iceberg, "não adianta falar só da polícia, porque a polícia sozinha não vai resolver.

É um iceberg dessa sociedade globalizada que tem no lucro o seu principal mote, e não na pessoa humana", afirmou.

A articuladora da SMM disse que quando se fala de tráfico, se fala das condições socioeconômicas, porque existe a "feminização" da pobreza e citou como exemplo "um homem de 40 anos, branco, professor universitário, se sente no direito de usar uma jovem porque ela é afrodescendente, ou porque ela é pobre ou porque ela é indígena, porque ela já teve uma relação sexual anterior.

O que faz com esse cara se sinta no direito de fazer isso?" Para Priscila Pereira é fundamental que a sociedade civil se uma nessa luta, "são essas reflexões que nós temos de discutir, porque senão nós não vamos resolver o problema.

É uma vergonha pro nosso país sermos o maior exportador de mulheres e meninas das Américas, para uso da indústria sexual no primeiro mundo".

Ela citou dados da Polícia Federal, segundo os quais em 2008 sumiram nos Estados amazônicos 630 jovens de 13 a 23 anos, somente as que foram notificadas em boletim de ocorrência.

Além disso, já foi detectada rota de tráfico saindo de Manaus para Roraima, daí para o Suriname e de lá para a Holanda.

"Não dá mais para ficar cantando glórias no Dia da Mulher quando nós aceitamos uma realidade como essa. É a própria aberração contra a dignidade de uma pessoa", disse.

Priscila também lembrou que para a ONU não existe maior crime contra os direitos humanos do que o crime do tráfico.

"Porque você tira antologicamente a condição de pessoa humana, aquela pessoa se torna o traseiro de uma afrodescendente ou então os peitos de uma branquela.

A gente (mulher) se torna uma coisa, um objeto, e é contra isso que nós estamos convocando toda a sociedade civil aqui da Amazônia, todas as companheiras e todos os companheiros, porque esse é um crime que tem de ser combatido por todos.

Se o crime é organizado, a sociedade também tem de ser organizar para combater", conclamou.

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