terça-feira, 6 de novembro de 2012

PSD ganha força e quer ministério


“Nem de esquerda, direita ou centro.” Foi assim que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, anunciou no ano passado a linha ideológica que balizaria os passos do Partido Social Democrático, sigla montada por ele em 2011. Kassab sonhava em estruturar um partido formado por políticos de diferentes legendas, majoritariamente do DEM, sua antiga sigla.
Um ano depois, as eleições municipais consagraram seu projeto: o PSD saiu das urnas como a quarta força do país em número de prefeituras - 497 prefeitos e mais de 4.500 vereadores. Também um ano depois, Kassab agora começa a colocar em prática a segunda fase do seu projeto: instalar o PSD na máquina federal.
Conhecido no meio político pela habilidade para negociar acordos, Kassab começou a se aproximar do PT antes mesmo das eleições municipais. Porém, o anúncio à época de que José Serra (PSDB), de quem herdou a prefeitura da maior cidade do país, seria candidato impediu o arranjo. Além da fidelidade ao prefeito ao tucano, o acordo também esbarrou numa eventual falta de discurso comum ao PT, que passaria toda a campanha atacando a gestão Kassab. Dito e feito. A má avaliação da administração municipal pesou contra a candidatura de Serra e o petista Fernando Haddad foi eleito no último dia 28 de outubro. 
Dado o histórico político-partidário de Kassab e seus aliados, o caminho natural do PSD, que encampou a chapa de Serra, seria integrar a oposição à futura gestão Haddad na cidade. Kassab, porém, apressou-se em colocar o PSD no barco petista. 
O PSD em números em 2012
·         NOS MUNICÍPIOS
·         497 Prefeitos eleitos
·         4.652 Vereadores eleitos
·         NOS ESTADOS
·         2 Governadores (SC e AM)
·         107 Deputados estaduais
·         EM BRASÍLIA
·         2 Senadores
·         47 Deputados Federais
·          
A aproximação com o PT já havia sido ensaiada em disputas regionais que uniram petistas e o novo partido, como em Belo Horizonte, onde Kassab chegou a intervir no diretório local da sigla para forçar o apoiodos filiados locais ao candidato Patrus Ananias (PT), que havia sido escolhido por Dilma. Fim das eleições, as negociaçõesentre o PSD e PT já começaram, e incluem a possível entrega da chefia de um ministério.
“Os resultados foram um teste que fortaleceram o partido. Agora, não vamos forçar nada. Não queremos que ela [Dilma] tire outro ministro para colocar alguém do PSD. Não queremos nos indispor com ninguém. Nosso projeto é para 2014, quando devemos estar com a presidente Dilma. O espaço do PSD será conquistado num segundo mandato da presidente”, disse a VEJA o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz.
Segundo o secretário, nem mesmo a eventual concessão imediata de um ministério é fundamental para a aproximação. “Mas é lógico que não vamos recusar se a presidente disser ‘faço questão que vocês tenham um ministério’”, diz Queiroz.
Mais discreto, o deputado federal paulista Guilherme Campos, líder do PSD na Câmara, afirma que a aproximação com o governo federal ainda está na fase de “negociações” e que, por enquanto, tudo vai continuar igual no PSD. “Vamos nos concentrar no fortalecimento do partido”, disse Campos. Kassab disse a revista VEJA que o apoio só deve mesmo ser oficializado no próximo ano.
Tamanho - Mais do que as prefeituras, o que valoriza o passe do PSD para o governo de Dilma Rousseff ou para outros partidos que venham a disputar a Presidência em 2014 é a sua bancada na Câmara. O partido conta com 47 deputados federais (tem mais oito licenciados), o que faz dele o quarto maior partido da Casa, só atrás do PT, PMDB e PSDB. Apesar da força, a bancada é toda formada por deputados que abandonaram outros partidos, que não passaram pelo crivo dos eleitores quando se instalaram no PSD. 
Mas as eleições municipais mostraram que o PSD é bom de voto - pelo menos nos municípios - mesmo sendo um partido sem ideologia definida e que segue uma trajetória previsível. Para se firmar neste pleito, a sigla usou a antiga máquina dos diretórios estaduais de partidos canibalizados para a formação da nova legenda. Nos estados em que mais elegeu prefeitos, o PSD simplesmente repetiu o projeto de poder de  conhecidos caciques regionais que já foram filiados ao DEM, PMDB, PSDB e até ao PMN. Tudo sem o aparecimento de novas lideranças. 
O crescimento também seguiu a velha tradição brasileira em que detentores do governo ou da vice-governadoria conseguem eleger um grande de número de candidatos a prefeito com um empurrão da máquina pública. Onde estava no poder, o PSD ganhou mais.
Foi assim nos estados de Santa Catarina e do Amazonas, onde o PSD detém os governos estaduais, e em Tocantins, em Mato Grosso e na Bahia, em que o partido de Kassab conta com vice-governadores. "É uma coisa normal, os cargos permitem uma maior visibilidade", diz o deputado licenciado Paulo Bornhausen (PSD-SC). Com isso, o partido conseguiu o melhor desempenho candidato/eleito entre todos os partidos. Cerca de 45% dos seus candidatos a prefeito se elegeram.  Em comparação, só 35% dos petistas concorreram a prefeituras venceram.
Em Santa Catarina, o PSD vem seguindo simplesmente a trajetória do velho DEM local com um nome diferente. O partido conseguiu ocupar quase todo o espaço do seu antecessor, que era bastante tradicional no estado. Elegeu 54 prefeitos e conquistou a prefeitura de Florianópolis – que se tornou a primeira capital administrada pelo novo partido. Já nos estados em que não contava com a força de caciques com mandato, a sigla foi mal. Foi o que aconteceu em Roraima, no Acre e no Amapá.
O governador de Santa Catarina é Raimundo Colombo, também um egresso do DEM. O projeto do partido no estado continua sendo essencialmente o mesmo arquitetado pelo DEM em 2010, e inclui uma grande coalizão com o PMDB para administrar o estado. Já no Amazonas, o fortalecimento do PSD deve ter como consequência o afastamento do governador Omar Aziz do seu antecessor Eduardo Braga (PMDB), de quem foi vice. 
Imagem - Ainda que se aproxime do governo federal, o PSD tenta se afastar da imagem de agremiação oportunista, alimentada, sobretudo, pela célebre frase de Kassab sobre a linha ideológica da sigla. Mas as lideranças continuam sendo vagas sobre a linha da legenda. "Somos um partido novo, ainda em formação. Aquela frase do Kassab foi mal interpretada. Nós somos um partido independente", diz o deputado Bornhausen, que é filho do ex-cacique do DEM Jorge Bornhausen. Já o deputado Campos afirma que essa falta de consistência deve ser corrigida "conforme o partido for amadurecendo".
Já  senador e presidente do DEM, José Agripino Maia, tem, obviamente, uma opinião bem menos favorável. "O PSD é uma sopa de letrinhas sem sentido algum. Não vai durar. Ele só existe para aderir ao governo. Mais nada. É só ver o que fizeram em São Paulo, mal esperaram para aderir ao Haddad", disse. 
Apesar da imagem "independente" e pretensamente agregadora de políticos que estavam insatisfeitos em outras siglas e que, enfim, teriam seu espaço, o PSD não se viu livre de conflitos internos nestas eleições. O episódio mais grave envolveu a senadora Katia Abreu (PSD-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que se irritou com a mão pesada com que Kassab agiu no caso do PSD mineiro, forçando uma aliança com o PT. “Foi uma coisa pontual, que já passou”, diz o deputado Campos.
Influência – E o cacife de Kassab e do PSD com o governo de Dilma pode aumentar ainda mais. O PSD está em negociações com o PP, do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP), com o objetivo de fazer uma fusão entre os dois partidos. Se o projeto evoluir, o PSD e PP formariam na Câmara uma bancada do tamanho da do PT – hoje a maior da Câmara – com 86 deputados. Seria maior que a do PMDB, que tem 78 deputados.
Mas não é certo que o projeto avance. Caciques do PSD afirmam que as conversas existem, mas que um eventual avanço deve provocar muitos atritos. “É algo que faria mais sentido se o PSD tivesse saído enfraquecido das eleições”, disse o secretário Queiroz.  Alguns pepistas também já reclamaram publicamente do projeto, afirmando que o PP teria pouca a ganhar se unindo a Kassab, que naturalmente iria liderar a sigla mais inchada.
Conversas anteriores com outros partidos já ocorreram antes, especialmente quando PSD corria o risco de não participar da divisão do bolo do fundo partidário. Um movimento aconteceu com o PSB até junho, mas acabou não produzindo resultados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário