Acompanhado do deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP), um ex-seminarista respeitado entre os católicos, o candidato do PT Fernando Haddad foi à missa. Rezou o Pai Nossa e a Ave Maria na Paróquia Nossa Senhora de Aparecida nesta sexta-feira.
O evento religioso foi inserido na agenda nas pegadas dos ataques desferidos contra Haddad na véspera pelo pastor Silas Malafaia. Religioso carioca, o líder da igreja Assembléia de Deus Vitória em Cristo tornou-se cabo eleitoral do tucano José Serra em São Paulo.
Repete-se na cena municipal de 2012 um fenômeno da campanha presidencial de 2010. A exemplo do que ocorrera com Dilma Rousseff, os antagonistas do PT tentam grudar em Haddad a pecha de candidato cultor de valores antirreligiosos.
No primeiro turno, esse papel foi desempenhado com maior desenvoltura pela igreja Universal, apoiadora da candidatura de Celso Russomanno. No segundo round, o tucanato de Serra assume a causa, terceirizando-a a Malafaia.
Contra Dilma, utilizara-se o aborto. Explorou-se sobretudo uma entrevista que ela concedera defendendo a descrimionalização da prática. Vendia-se a tese segundo a qual, eleita, a candidata de Lula legalizaria o aborto.
Contra Haddad, utiliza-se o kit antihomogobia –‘kit gay’, como preferem os inimigos. Elaborado em 2011 pelo Ministério da Educação, na gestão de Haddad, seria distribuído nas escolas públicas. Bombardeado pela bancada da Bíblia no Congresso, o material foi à gaveta por ordem de Dilma.
Na campanha presidencial, Chalita fora acionado pelo PT para neutralizar a tática. Embora tenha trocado o seminário pela política, ele manteve os vínculos com a Igreja Católica. Atou-se sobretudo à Canção Nova, associação de fiéis criada em 1978 pelo monsenhor Jonas Abib.
Chalita levou Dilma a um talk show semanal que comandava na tevê da Canção Nova. Intermediou conversas da então candidata com cerca de três dezenas de bispos. Acompanhou-a numa missa na cidade de Aparecida.
Candidato do PMDB à prefeitura paulistana, Chalita obteve a quarta votação. Acaba de declarar apoio ao petista. O blog perguntou ao deputado se pretende repetir com Haddad o que fez com Dilma, aproximando o candidato de lideranças católicas.
E ele: “Ninguém me pediu isso. E eu não acho necessário. Não conversei sobre isso com o Haddad. Vou gravar uma participação para o programa dele. Mas falarei de Educação, de questões ligadas à administração da cidade.”
Ex-tucano, Chalita enxerga nos ataques de Malafaia a Haddad “uma coisa contratada” (dois dias antes de levar à web o vídeo contra o candidato petista, o pastor encontrara-se com Serra em São Paulo). Chalita descrê, porém, do êxito da estratégia.
“Misturar religião com política é um horror. Não deu certo antes e não vai funcionar agora”, disse Chalita. “A população quer discutir os problemas de São Paulo, agravados pela péssima administração de Gilberto Kassab.” De resto, ele considera desnecessário repetir agora o papel que desempenhara em 2010. “Não sinto que o discurso religioso vá pegar. E o PT possui uma ligação muito forte com a Igreja na cidade de São Paulo.”
A missa desta sexta foi celebrada pelo padre Rosalvino Viñayo. Chalita disse que ele já conhecia Haddad. Desenvolve na zona leste da capital paulista um trabalho social respeitado. Conduz, por exemplo, cursos para mais de 10 mil jovens.
A convite do padre, Chalita foi ao microfone. Leu um trecho da Bíblia. “O Haddad nem falou”, fez questão de realçar. “Ninguém pediu votos. Nessa campanha, fui a vários eventos religiosos. Toda vez que me davam a palavra, jamais pedi votos. Primeiro porque isso não rende votos. Segundo porque é um desrespeito com as pessoas, que estão ali para outra coisa.”
Diferentemente de Chalita, que participou ativamente da celebração –ajoelhou e entoou todos os cânticos— Haddad manteve-se em pé e não cantou. Limitou-se a recitar o Pai Nosso e a Ave Maria. Ao final, comungou.
Instado a comentar os ataques de Malafaia, Haddad também disse enxergar as digitais de Serra na fala do pastor. “Quem está por trás disso é o José Serra. Eu posso te assegurar. Ele fez isso com a Dilma Rousseff e ele vai fazer isso comigo.”
Acrescentou: “Ele promove esse tipo de coisa, sobretudo nas redes sociais. Ele tem um exército nas redes sociais que promove o ódio. É a mesma estratégia de 2010, mas deu errado. Ele tinha que entender que esse tipo de prática dá errado.”
Da igreja, Chalita e Haddad foram a um templo do consumo da zona leste. Fizeram um corpo a corpo no Shopping Aricanduva.
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