Apesar da projeção otimista do governo e da alta avaliação popular, o programa Mais Médicos "deve ter um impacto muito pequeno na saúde pública do País". Pelo menos esta é a avaliação do médico cancerologista Drauzio Varella, conhecido em nível nacional por suas constants participações em programas da TV Globo, sobretudo no 'Fantástico'.

"O médico sozinho melhora um pouco a qualidade da saúde, mas melhora muito pouco. Faltam hospitais de referência, faltam condições para atender essas pessoas e encaminhar para os locais que possam fazer o atendimento aos casos mais complexos", diz Drauzio.
Mesmo relatando as limitações a que os médicos estão submetidos, o médico se diz favorável à ida de profissionais aonde não se tem nenhum. Ele discorda é da mensagem de que o programa tende a resolver os tantos problemas da saúde pública brasileira.
Para o médico, o tom de promoção do programa soa demagógico, especialmente por 'coincidentemente' ter sido lançado em período pré-eleitoral.
Abaixo íntegra da entrevista de Drauzido Varella ao UOL.
UOL - Com a importação de médicos estrangeiros para o país, pelo programa Mais Médicos, uma prolongada discussão sobre saúde pública ganhou maior interesse da população. Como vê essa questão?
Drauzio Varella - É um assunto complexo. Lugar que não tem médico tem que ter. Se não tem médico brasileiro, tem que ter médico de qualquer lugar. Sou totalmente a favor. O que eu sou contra é usar isso demagogicamente, colocar isso de uma maneira que parece que vai resolver o problema da saúde pública do Brasil. Não é verdade.
UOL - Mas agora o projeto virou lei e faz parte da realidade brasileira. O que o senhor vislumbra com esses médicos já trabalhando no país?
Varella - Acho que vai melhorar um pouco porque vai ter gente em lugares onde não tinha anteriormente. O médico sozinho melhora um pouco a qualidade da saúde, mas melhora muito pouco. Faltam hospitais de referência, faltam condições para atender essas pessoas e encaminhar para os locais que possam fazer o atendimento aos casos mais complexos. Se há uma imagem que pode ser considerada a marca do programa: a do cubano Juan Delgado, 49 anos, um dos profissionais
UOL - O Sr. crê que se não estivéssemos em um contexto pré-eleitoral o programa seria diferente?
Varella - Acho que existe uma coincidência evidente aí, não é? De repente acontecem umas passeatas e ai apressadamente deslancham esse programa e apresentam isso para a sociedade como a resposta para os problemas médicos do Brasil. É demagogia, né?
UOL - A tendência é que a chegada desses médicos mude a realidade do acesso à saúde para a população?
Varella - Acho que vai melhorar nesses lugares onde não havia médico e passa a ter médico. Melhor do que nada, né? Mas isso é uma medida paliativa com impacto muito pequeno na saúde pública.
UOL - Tendo em vista seu engajamento em questões de saúde pública como o combate ao crack, o senhor crê que a importação desses médicos pode fazer diferença no andamento das próprias políticas de saúde no Brasil?
Varella - Não sei se nessas questões isso pode mudar o curso das coisas. No lugar que não tem médico e você coloca um lá, ele pode acompanhar os hipertensos, diabéticos, pode fazer um pré-natal decente. Isso tem certo impacto na saúde, mas quando você fala em saúde pública implica em um atendimento muito mais generalizado.
UOL - Por que o Programa Saúde da Família, de atenção básica e o cerne do Mais Médicos, é tão desvalorizado no Brasil?
Varella - Pois é, é uma pena porque esse é um programa maravilhoso. Esse sim tem um impacto verdadeiro, mas infelizmente fica relegado a vontade política de criar mais equipes. A saúde precisa de dinheiro, mas não precisa só de dinheiro. Precisa de gerenciamento, de decisões politicas acertadas e esse é o principal problema.
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