Há na Câmara 23 líderes partidários. Entre 2007 e 2008, 11 deles usaram a verba da cota pessoal de passagens aéreas para pagar viagens ao exterior.
A liberalidade custou ao contribuinte brasileiro R$ 145,6 mil. Dos 11 viajantes, oito fizeram-se acompanhar de familiares. Outros três cederam bilhetes a terceiros.
Deve-se a descoberta aos repórteres Lucio Lambranho, Edson Sardinha e Eduardo Militão. As informações foram levadas ao sítio Congresso em Foco.
Os líderes tem bom gosto. O destino preferido foi Nova York (28 viagens). Vieram a seguir: Paris (16 viagens) e Miami (15). Abaixo, os detalhes:
1. Mário Negromonte (PP-BA): O líder do PP é o campeão de viagens ao estrangeiro: 23 bilhetes. Sempre no trecho São Paulo-Nova York.
Levou a mulher, Edna. E as filhas: Daniella e Gabriella. "Se não fosse permitido, ninguém faria. Tudo foi feito dentro da legalidade”, disse Negromonte.
2. Fernando Coruja (PPS-SC): O líder do PPS é o segundo no rankink dos viajantes: 19 passagens aéreas para o exterior.Foi a Paris. Ora com mulher (Cristina) e filhos (Guilherme e Maria Fernanda) ora só com a mulher.Coruja também cedeu bilhetes de sua cota para terceiros. Seis pessoas. Parte voou para Paris. Outra parte, para Miami.
O deputado diz que a lei permite. A despeito disso, defende agora a adoção de critérios mais restritivos.
3. Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN): O líder do PMDB figura no ranking de emissores de passagens ao exterior em terceiro lugar: 13 bilhetes.Oito para viagens de ida e volta a Miami. Voou com a mulher, Priscila, e com dois filhos: Andressa e Pedro Henrique.Voou também para Buenos Aires e Nova York. Não foi encontrado para comentar os deslocamentos.
4. Sarney Filho (PV-MA): Líder do PV, o filho do presidente do Senado, José Sarney, valeu-se da cota da Câmara para emitir nove bilhetes.Viajou com a mulher para Buenos Aires e Madri. O filho Marcos Sarney foi a Miami. Outras duas pessoas estranhas à Câmara foram a Santiago e Montevidéu.Ouça-se Sarney Filho: “Meu gabinete sempre foi orientado [...] a seguir os procedimentos da Câmara...” “...Estou apurando o que realmente ocorreu nos casos citados e, se for constatado algum equívoco, este será reparado na forma do regimento da Câmara”.
5. Sandro Mabel (PR-GO): Na cota do líder do PR emitiram-se quatro bilhetes. Referem-se a uma viagem do deputado e da mulher dele, Cláudia, para Buenos Aires. Ida e volta.Procurado, Mabel não devolveu os telefonemas dos repórteres.
6. José Aníbal (PSDB-SP): Acompanhado da mulher, Edna, o líder tucano fez uma viagem a Paris.Há, de resto, um bilhete em nome da filha do deputado, Maria do Carmo, no trecho Nova York-São Paulo. Por meio da assessoria, Aníbal atestou que a viagem que fez coma mulher foi, de fato, provida pela Câmara.Quanto à filha, informou-se que a despesa decorre de uma diferença cobrada pela companhia aérea em decorrência de mudança de data do vôo.Informou-se ainda que Aníbal determinara a um assessor que fizesse o pagamento. E só agora teria tomado conhecimento de que a despesa foi à conta da Câmara.
7. Ivan Valente (PSOL-SP): O líder do PSOL também foi a Paris com a mulher, Vera, nas asas da Câmara. Coube ao chefe de gabinete, Rodrigo Pereira, explicar.Disse que o deputado utilizou um “crédito antigo”. Acrescentou: "O nosso é um alfinete no meio de muitas agulhas. Em certa medida, todo mundo faz isso".
8. André de Paula (DEM-PE): É líder da minoria na Câmara. Cedeu bilhetes de sua cota para a filha Maria Cláudia. Ela voou para Paris. Não foi localizado para comentar.
9. Daniel Ameida (PCdoB-BA): O líder comunista cedeu bilhetes para que um dirigente do PCdoB, José Carlos Ruy, voasse –ida e volta—de São Paulo para o Chile.O deputado alegou, por meio de assessores, que o companheiro de partido foi representá-lo em evento promovido pelo Partido Comunista chileno.
10. Uldorico Pinto (PMN-BA): Líder de sua legenda, o deputado cedeu um bilhete para que a servidora da Câmara Dionée Alencar viajasse a Buenos Aires.Diz que só o retorno da funcionária saiu de sua cota de passagens. Informa que vai devolver o dinheiro.
11. Cleber Verde (PRB-MA): Cedeu três bilhetes a terceiros. Dois para Loren Robinson (Manaus-Miami, ida e volta). Um para Adriana Freitas (São Paulo-Nova York, só ida). Os repórteres enviaram mensagem eletrônica ao deputado. Não houve, por ora, resposta.
No geral, os deputados não vêem problemas (leia) no uso ou na cessão de passagens para viagens internacionais. O Ministério Público pensa de outro modo. Em ofício enviado à Câmara, a Procuradoria da República recomendou que as passagens fossem usadas apenas pelos deputados. E somente nos deslocamentos para seus Estados.
Fonte: Blog do Josias de Souza
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