Casado estende críticas ao governador
A construção do Terminal Portuário Porto da Lajes, no bairro Colônia Antônio Aleixo (zona oeste), um projeto de R$ 220 milhões, foi discutido em audiência pública na Assembleia Legislativa nessa sexta-feira 17, reunindo, além de vários deputados, representantes de movimentos contra o projeto. A empresa responsável pela obra, a Lajes Logística S.A, não mandou representante, fato criticado por diversos oradores, todos contrários ao empreendimento do governo estadual, para solucionar o problema de logística do PIM (Polo Industrial de Manaus), porque os grandes navios de carga não teriam de passar por toda a orla de Manaus, antes de chegar ao porto, que hoje fica no centro da cidade.
Mas os movimentos contra o Porto das Lajes, que ocupará uma área de 600 metros quadrados, enfrenta resistência de moradores da área, além de alguns políticos e professores como Rogélio Casado, pró-reitor de Extensão da UEA (Universidade do Estado do Amazonas), que fez um dos mais duros discursos contra o projeto, sem poupar o governador Eduardo Braga (PMDB), cujo nome não citou. “Não consigo entender um jovem governador, que consegue se notabilizar no plano internacional, com leis de meio ambiente, ainda que sujeito a criticas de alguns ambientalistas, ter a sua imagem colada à destruição de um patrimônio histórico dos amazonenses, do ponto de vista paisagístico, cultural, do ponto de vista da nossa identidade”, afirmou Rogélio Casado.
Antes de discursar, ele ouviu dos deputados Wilson Lisboa (PCdoB) e Wallace Souza (PP), que a Assembleia Legislativa precisava ter conhecimento dos dados técnicos, que só a empresa poderia fornecer, mas garantiram que estariam sendo a favor da população.
Logo no início da fala, Rogélio explicou que não era ambientalista e não trazia nenhum dado técnico, porque sua formação é de saúde mental, o que poderia “frustrar” alguns deputados. Mas tinha “dados empíricos” e o movimento dos contrários à Ponte das Lajes não poderia ser desqualificado por falta de informações técnicas, como se não tivesse intimidade com o tema. “Mas eu ouso dizer que tenho sim (intimidade), porque sou filho de marinheiro e nas seis caravanas que fizemos naquela localidade, para identificar a maior área de impacto ambiental, eu prestei muita atenção em detalhes geográficos da região”, declarou, explicando que na infância tomava banho naquela região.
Com imagens mostradas no painel eletrônico do plenário, Rogélio explicou que “parte do porto fica justamente na boca do lago do Aleixo”. Além das imagens da torre da Embratel, as falésias das lajes foram mostradas, assim como a Soka Sagai, uma empresa nipo-brasileira que, segundo ele, fez o que nenhuma empresa fez em defesa dos nossos rios: reflorestamento de uma área que degradada, em dez anos, com auxílio de pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). “Uma maravilha”, afirmou. “E ao lado, a empresa Alumazon, um desastre, feito com recursos federais, que o governo estadual resolveu fazer dali a captação de água para 500 mil habitantes da zona leste”.
Segundo Rogélio Casado, exatamente onde se pretende construir o Porto das Lajes, é onde acontece a desova dos peixes, inúmeros peixes. Nesse momento, Rogélio convidou os deputados para, no mês de maio, visitarem aquela área, para ver a piracema. “Aliás, todos os vereadores vão, na próxima semana, para conhecer a localidade. Nós poderíamos ir em maio, para ver a piracema lá dentro”, disse. Rogélio sustentou, exatamente na boca do Lago do Aleixo, de onde os moradores “retiram parte do sustento alimentar”, é que será construído o novo porto. Ele também criticou argumentos de parlamentares, de que os contêiners não ficarão na beira do rio, mas a 2,4 mil metros, na terra firme.
Claro que os contêiners não ficarão na beira do rio, ironizou. Mas o que não se diz é que, também em terra, haverá problemas. “O que não se diz é que, em dez mil metros, certamente nós temos inúmeros sítios arqueológicos, que serão prejudicados, e que são importantes na analise de estudos daquilo que configura a nossa identidade, a dos nossos antecedentes”, afirmou. Rogélio defendeu o movimento contrário ao porto naquele local e sugeriu que os deputados ajudassem na divulgação dos seus propósitos. Declarou estar solidário aos técnicos do Ipaam (Instituto de Proteção ao Meio Ambiente do Amazonas), insinuando que poderia estar havendo pressão sobre aquele órgão.
“Sou solidário aos os técnicos do Ipaam, pelas pressões que eventualmente recebem. Afinal, são 220 milhões de reais que estão em jogo. Isso deveria ser federalizado, sim, invocando a condição de um rio que é internacional e que deve haver a maior lisura nesse processo”, declarou. Mas Rogélio deixou no ar que alimenta a esperança de o governador Eduardo Braga desistir da ideia: lembrou que, diante de idêntica pressão, Amazonino Mendes “teve a sensibilidade” de recuar na construção de um camelódromo. Também contou: conhece a família do responsável pela Empresa Juma, e disse a um deles que “nem dentro do governo estadual” viu uma “defesa tão apaixonada pelo construção do porto ali naquela região”.
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