quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Serpentes: fascinante​s desde os primórdios da história

Quando alguém se envolve em uma discussão, diz-se que uma delas falou “cobras e lagartos” para a outra. O pecado que fez com que Adão e Eva fossem expulsos do paraíso está personificado na figura de uma serpente. A  relação do homem com as cobras, animais de sangre frio (ectotermos) oscila entre o fascínio e o ódio. 

Enquanto despertam na maioria das pessoas reações negativas, uma experiência recente revelou que elas são a terceira opção na preferência das crianças. Perdem apenas para o hamster e o peixe e deixam para trás as aranhas.

A conturbada relação do homem com os animais de sangue frio foi tema da última edição do Ciência às 7 e meia de 2013. O palestrante foi o professor-doutor Igor Kaefer, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Doutor em Biologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e professor de Ecologia da UFAM, Kaefer traçou um breve histórico sobre os estudos relacionados a sentimentos e emoções entre o homem e os outros animais.

Segundo ele, muito do que se tem de aversão a esses bichos, denominados de ectotermos, está relacionado a processos evolutivos e a aspectos culturais, que os associam à falta de emoções, de sentimentos. E até mesmo o termo sangue frio não corresponde totalmente à realidade. “Alguns podem até alcançar temperaturas mais elevadas que a nossa”, explicou.

Durante sua exposição, Kaefer falou, ainda, sobre os princípios da biofilia, hipótese levantada pelo biólogo americano Edward Wilson. “Indivíduos têm propensão a gostar do que é natural. Daí os nossos hábitos de criar animais, cultivar plantas”, detalhou. Segundo Igor, as questões relacionadas à comparação de comportamentos e emoções entre animais e o homem vêm sendo estudadas desde a antiguidade.

Heráclito considerava os animais como seres com alma inferior. Outros autores, como Aristóteles, Locke, Kant e Darwin também foram a fundo na questão. John Locke considerava que o homem nascia com a mente totalmente vazia. Para Kant, o indivíduo já nasce com algumas propensões, o que reforça a possibilidade de sentimentos como aversão, medo e nojo desses animais terem evoluído a ponto de tornarem-se instintivos.

Há outras variantes nessa relação: características do próprio animal, como a cor, a posição (ataque ou repouso), o estado fisiológico do observador. De acordo com o palestrante, estudos apontam que mulheres na fase pré-menstrual ficam mais sensíveis a detectar estímulos danosos no ambiente. “Também por uma razão evolutiva. Nesse período, em que ela está próxima de ovular e engravidar, esse aspecto de proteção é instintivamente estimulado”, disse.

Igor falou, ainda, sobre a hipótese de outra estudiosa do assunto, Lynne Isbell, antropóloga da Universidade da Califórnia. O que esta pesquisadora propõe é que os antepassados dos primatas desenvolveram o apurado sistema de visão para evitar as cobras. Um exemplo citado pela estudiosa é a amistosa relação dos lêmures com as serpentes. Os lêmures são animais que ocorrem somente na Ilha de Madagascar, onde, curiosamente, não existem cobras venenosas.

Amados ou odiados, os animais de sangue frio precisam ser melhor estudados, avaliou Igor, pois são os mais ameaçados de extinção. “Não especificamente por conta dessa relação com o homem, mas principalmente por conta de outros aspectos, como a perda de habitat”, afirmou. Citou, ainda, iniciativas de instituições como o Musa, que desmistificam essa relação com a promoção de exposições científicas sobre esses animais, caso da Exposição Sapos, Peixes e Musgos e o Jogo do Cururu.

Sobre o Ciência às 7 e meia

O "Ciência às 7 e Meia" leva ao Teatro Manauara palestras e oficinas sobre temas científicos apresentadas em linguagem descontraída e com uso de imagens e recursos audiovisuais.

O projeto tem a intenção de mostrar ao público aspectos da ciência pouco conhecidos: o prazer da descoberta, as dificuldades da pesquisa, a beleza escondida, entre outros.

Além de apreciar belas imagens, o público terá a chance de ouvir relatos mais pessoais sobre como é fazer pesquisa, especialmente na Amazônia. "Ciência às 7 e Meia" acontece toda última quarta-feira do mês com entrada gratuita. A próxima edição será em janeiro de 2014.

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