quinta-feira, 5 de março de 2009
CPI da Pedofilia.
Denúncias de abusos sexuais envolvem empresários, policiais, políticos e até um irmão da governadora Ana Júlia Carepa
Os senadores Magno Malta (PR-ES), Romeu Tuma (PTB-SP), Demóstenes Torres (DEM-GO), José Nery (PSOL-PA) e Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) devem participar, nos próximos três dias, da tomada de depoimentos de envolvidos em denúncias de Pedofilia no Pará. Os parlamentares, que integram a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, começaram nesta quinta-feira (5) as diligências em Belém, realizando reunião pela manhã com membros do Tribunal de Justiça do estado e, na parte da tarde, dando início às oitivas.
A Assembleia Legislativa do Pará instalou há uma CPI para apurar os abusos sexuais de menores no estado. A história de impunidade desse tipo de delito no Pará é antiga. Assim que a CPI começou a funcionar e os relatos passaram a ser estudados, viu-se que o problema é mais profundo e prevalente do que se podia imaginar. "É uma prática disseminada em todos os municípios", disse à comissão o bispo de Marajó, dom Luiz Azcona, que dedica seu prelado à proteção das crianças. Azcona contou que, no Pará, os abusos ocorrem à luz do dia, às vezes ao lado da polícia, às vezes nas escolas. Empresários, políticos, autoridades e até um dos irmãos da governadora Ana Júlia Carepa estão entre os acusados de envolvimento. O motorista João Carlos Carepa, conhecido como Caíca, é acusado de ter assediado uma contraparente. O Boletim de Ocorrência 433/2008.000328-3 revela que Caíca a molestou quando ela tinha apenas 11 anos. Em depoimento à polícia, a vítima, que hoje tem 13 anos, afirmou que as agressões se sucederam no decorrer de um ano.
Quatro episódios desse período foram registrados na delegacia. No primeiro, o contato ocorreu na piscina da casa dos avós da garota em um momento de ausência de outros adultos. No segundo, aconteceu depois que ele obteve a autorização da mãe da vítima para levá-la ao circo. A menina aceitou o convite quando Caíca garantiu falsamente que seu pai, Arthur Carepa, os acompanharia. O motorista teria aproveitado o passeio para beijá-la à força e apalpar seus seios. A polícia registra cenas semelhantes em mais duas ocasiões: em uma ida de ambos a um supermercado e em um jantar na casa de Caíca. A vítima foi submetida a um exame de corpo de delito para verificar se fora estuprada, mas os resultados não são conhecidos pela CPI. A família da menina procurou a polícia em setembro passado. Dias antes, ao fim de um culto evangélico, a garota revelou ao pai seus tormentos. "Disse que não agüentava mais guardar segredo", contou ele. "Caíca era como se fosse da família", lamenta a mãe. O irmão da governadora recusa-se a tocar no assunto.
A CPI paraense se debruçará sobre casos ainda mais chocantes. Um deles envolve o deputado estadual Luiz Afonso Sefer, do DEM. Ele é acusado de violentar uma garota de 9 anos. Segundo a denúncia, as agressões duraram quatro anos. A menina relatou que foi "entregue" a Sefer por Estélio Guimarães, vereador de Mocajuba, cidade de 23.000 habitantes, localizada em um belo cabo da margem direita do Rio Tocantins. A garota teria sido submetida a diversos tipos de sevícia sexual. Em seu relato mais dramático, ela conta que, como era ainda criança, o deputado usou um instrumento ginecológico para consumar o crime. Há pouco mais de um ano, descobriu-se que a polícia paraense manteve uma moça de 15 anos em uma cela com trinta presos, que a estupraram e torturaram por 24 dias. O então delegado-geral do estado, Raimundo Benassuly, culpou a vítima: disse que ela não reagiu por ser débil mental. A governadora Ana Júlia afastou-o do cargo. Durou pouco. Benassuly acaba de ser reempossado. Se os casos apurados pela CPI tiverem como conseqüência à mesma e branda punição dada ao delegado, as barbáries sexuais se perpetuarão.
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