O que a luz emitida pelo vagalume tem a ver com o processo de envelhecimento? E com a impotência sexual? E como a libélula virou a inimiga número 1 da indústria automobilística? Essas respostas são buscadas por cientistas no mundo inteiro em pesquisas relacionadas a insetos e bioluminescência (produção e emissão de luz por organismos vivos).
No Brasil, a referência no assunto é o químico Etelvino Bechara, pós-doutor pela Johns Hopkins University e Harvard University e professor da Universidade de São Paulo (USP).
Convidado pelo Museu da Amazônia, Bechara veio conhecer de perto a experiência do Musa no Jardim Botânico e profere palestra nesta quinta, 31, às 17h, na sede da instituição, rua Planeta Plutão (antiga rua E-G), nº 11, Morada do Sol, Aleixo. A entrada é gratuita. Nas trilhas do Musa/JB, Bechara pretende identificar fungos ou musgos que têm a mesma capacidade do vagalume, a bioluminescência.
A bioluminescência é a capacidade do inseto de produzir luz de alto rendimento (88%, contra 35% de uma lâmpada elétrica). A luz acende pela combinação de quatro fatores: o oxigênio, a energia armazenada nas moléculas de ATP, ou trifosfato de adenosina (uma importante substância presente nas células de todos os seres vivos), a ação de uma enzima catalisadora, conhecida como luciferase, e a presença de um combustível chamado luciferina. O oxigênio, enviado aos fotócitos, passa a reagir com a luciferina e com a enzima luciferase. Da reação entre essas duas substâncias surge a oxiluciferina no estado fluorescente, que libera energia na forma de luz.
Segundo estudo publicado por cientistas americanos, a luz acende sempre que a produção de óxido nítrico é estimulada (para atrair as presas, quando o inseto ainda está na fase de larva, ou chamar a atenção de possíveis parceiros sexuais e afastar predadores, quando adulto). Essa mesma substância é utilizada na fabricação de remédios contra impotência sexual, como controlador da pressão do sangue nas veias e artérias
.
Pesquisadores do Instituto de Bioquímica da USP, coordenados por Bechara, estudam como outra substância, a luciferina, pode servir de modelo para a fabricação de novos remédios contra o envelhecimento. Essas drogas atuariam no combate aos radicais livres, espécie de sobra do oxigênio utilizado na respiração e que é nociva aos seres vivos. Os cientistas descobriram isso ao perceber que o vagalume, ao emitir seus lampejos, elimina todas as sobras de oxigênio de sua respiração. O desafio é imitar a estrutura da luciferina para tentar chegar a uma nova droga antioxidante.
E quem poderia supor que minúsculos ovos de libélula pudessem ser problema para a poderosa indústria automobilística? Os ovos do inseto produzem um ácido forte, que em contato com a lataria é capaz de corroer a camada protetora da pintura. Em 2000, junto com outro pesquisador, Cassius Vinicius Stevani, Bechara realizou estudo que comprovou que as libélulas voam em direção aos carros, atraídas pela luz refletida na superfície – lisa e brilhante como a água onde costumam pôr os ovos. Três ou quatro horas depois, aparecem manchas opacas mais ou menos circulares com cerca de 5 milímetros de diâmetro. E de nada adianta lavar ou polir o carro. Os ovos produzem ácido cistéico, capaz de danificar a resina de forma ainda mais intensa do que o ácido sulfúrico.
O trabalho científico é marcado por estudos cujo denominador é o oxigênio. Desta forma, realizou, entre outras, pesquisas sobre os mecanismos de síntese de ATP na cadeia respiratória, quimioluminescência e bioluminescência, radicais livres em medicina. Atualmente, realiza pesquisas relacionadas à intoxicação por chumbo, diabetes e envelhecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário