O 'eterno candidato' José Serra continua a dar mostras de que ainda não desistiu da ideia de representar o PSDB na disputa pela presidência da República em 2014. Exemplo de tal determinação é sua movimentação Brasil a fora com agenda que vai de palestras em juntas comercais a visitas a unidades públicas de saúde, que fez na Bahia em dois meses.
Com discurso de candidato, o tucano voltou a disparar artilharia pesada contra o governo da presidente Dilma Rousseff e contra o ex-presidente Lula, a quem se refere como "o criador do que está aí".
Serra disse em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia na edição desta segunda-feira (28) que Lula ainda não é descartado como candidato do PT em 2014. Isso aconteceria, segundo o tucano, se o PT percebesse que há "muito risco" na candidatura de Dilma.
"Se o Lula não for o candidato, porque pode ser também que ele seja o candidato do PT. Se o partido perceber que existe risco maior com a Dilma, não tenha dúvida que eles vão recorrer ao Lula, mesmo que ele não queira e a Dilma não queira. Agora, ela sendo candidata, eles vão recorrer ao Lula como principal cabo eleitoral. O Lula vai ter que explicar o que está acontecendo no Brasil, pois é um dos grandes responsáveis, porque ele fez a Dilma candidata e de certa maneira a elegeu, tendo que prestar contas disso".
O ex-governador de São Paulo esteve em Salvador na última quinta-feira para participar de um encontro, organizado pela Associação Baiana de Supermercados (Abase), com empresários do ramo e de outros segmentos, além de profissionais liberais.
Ele também disse no evento e repetiu em entrevista à Tribuna que seu nome não está descartado para ser o candidato do PSDB em 2014 e, em relação ao senador Aécio Neves, foi ríspido: "Não estou fazendo campanha para ninguém".
Abaixo os principais trechos e aqui a entrevista completa do tucano à Tribuna da Bahia.
O senhor está em campanha pelo PSDB para 2014?
Não. Não estou em campanha eleitoral, nem campanha para ninguém. Estou naquele trabalho permanente que é procurar entender as coisas que acontecem no Brasil e passar isso para as pessoas, inclusive apontar caminhos. Eleição a gente vai ver no ano que vem. Estou convencido de que a antecipação do processo eleitoral é um grande prejuízo para o País. A Dilma teve quatro anos de mandatos e passou dois anos perplexa com a herança do governo anterior do qual ela participou e dois anos fazendo campanha e isso cria uma situação inconveniente para o Brasil. Acho que tem tempo para mais adiante.
Falou-se muito em sua mudança de partido. O que o levou ao movimento de permanecer no PSDB?
Não. Na verdade não foi um movimento. Eu simplesmente permaneci no PSDB. Não foi uma decisão. A decisão teria sido se fosse para sair, mas é o partido que eu fundei, sendo um dos fundadores, um dos redatores originais do seu programa, eu e o Fernando Henrique na época, enfim, toda a minha vida pública transcorreu no PSDB, e eu vou dá batalha pra o que eu quero para o Brasil dentro do partido.
Diante disso, o senhor vai disputar a indicação do partido para ser candidato do partido em 2014 com o senador Aécio Neves?
Olha o que nós combinamos é que a decisão sobre candidatura só será tomada depois de março, então vamos aguardar até lá. Lá a gente vê.
A respeito da pesquisa do Ibope, um dos cenários indica apenas o senhor no segundo turno. Isso obriga o PSDB a reavaliar a estratégia de colocar Aécio como candidato?
Pesquisa a essa altura é um retrato muito provisório do que pode acontecer no ano que vem. Tem muito tempo ainda para se chegar até lá. Acho que pesquisa é interessante olhar, se você me mostra uma pesquisa vou ficar curioso em olhar, mas acho que temos que dar tempo para que as coisas decantem, para que todo mundo seja mais conhecido e batalhar menos pela pesquisa e mais pela informação que a população brasileira precisa a respeito da natureza, da origem dos problemas que ela tem e como enfrentá-los.
O senador Aécio Neves se coloca como candidato natural do PSDB à Presidência, no entanto ele tem conseguido encarnar a postura de principal opositor ao governo Dilma Rousseff. Como o senhor avalia essa questão?
Olha, a questão toda foi a antecipação do processo eleitoral. Falta um ano para a eleição. É muito difícil que alguém, independentemente de quem seja, consiga encarnar essa ou aquela alternativa. Ainda falta muito tempo pra isso. Não dá para avaliar a posição de nenhum dos pré-candidatos ou possíveis candidatos hoje em dia como reflexo daquilo que poderá acontecer mais adiante. Vai ter muito tempo para que todos se exponham e contribuam para o debate no Brasil e para firmar suas candidaturas.
Dois governadores do PSDB, o Marcone Perilo e o Anastasia, disseram que a fila andou no PSDB quando questionados sobre uma possível candidatura do senhor em 2014. Como o senhor avalia esse movimento interno?
Eu não vi essas declarações. É uma posição deles. Tenho muito respeito pela posição de todos os militantes do PSDB, incluindo os governadores.
O senhor acredita que a decisão por prévias ajudaria a oxigenar o partido?
A partir de março do ano que vem a gente vai ver isso.
Foi cogitada uma chapa puro-sangue do PSDB. O senhor acha essa estratégia viável?
É muito prematuro dizer isso. Ao mesmo tempo tem as alianças, ou seja, vai depender dos aliados, do que eles reivindiquem. Em política é assim. Além disso, é muito prematuro dizer isso. Não tem nem candidato, imagine vice. Isso vai demorar tempo ainda.
O Partido Democratas vai manter a parceria com o PSDB em 2014 com a indicação de um vice ou pode marchar em um projeto novo com o governador Eduardo Campos (PSB)?
Eu acho que eles acompanham e, se Deus quiser, vão acompanhar. Tenho a impressão de que o Democratas se aliará ao PSDB em 2014, e se reivindicar o lugar de vice terá toda a legitimidade para fazê-lo. Mas, tudo ainda é muito prematuro.
O senhor tem uma marca de gestor. Diante disso, o que pode levar da experiência que adquiriu em sua vida pública a partir de agora, já que está começando a intensificar as visitas pelo País?
Eu acho que o Brasil quer mudança, quer mudar de verdade. Em 2010, o sentimento de mudança era menor porque a economia estava crescendo muito, nos meses da eleição 10% ao ano, massa salarial, empregos, crédito ao consumo e mesmo assim no segundo turno eu tive 44%. Hoje o desejo de mudança é muito mais intenso e generalizado. Agora, mudar pra quê? A contribuição é dizer quais são os problemas, qual é o meu diagnóstico, qual é o diagnóstico sobre as questões nacionais e quais são as soluções que se apresentam. O que o próximo presidente vai encontrar na mesa como problemas e por onde deve ir, desde a área da saúde, passando pela educação, o comércio exterior, o treinamento de qualificação? Tem muita coisa a esse respeito que precisa ser mostrada e debatida. Uma coisa é certa, não dá para ficar empurrando o País com a barriga como vem sendo feito, desde que o Lula deixou o governo. A partir da sucessão, o Brasil ficou sem um governo ativo. Como eu já disse, o atual governo ficou dois anos perplexo com a herança e dois anos fazendo campanha. É preciso pegar os problemas de frente.
Um erro e um acerto do governo Dilma Rousseff (PT)?
Olha os erros foram muitos e os acertos poucos. É muito difícil fazer a classificação, mas eu diria que a questão mais grave do governo Dilma foi não conseguir, por um lado, retomar os investimentos em infraestrutura, na área pública e, por outro lado, melhorar os costumes na política que, pelo contrário, pioraram, a exemplo do loteamento, a partidarização do Estado, a utilização do governo como um instrumento partidário para si e para seus aliados. Eu diria que virtude, talvez, no caso da presidente, ela se esforce para fazer as coisas direito, mas não consegue. Esforço só não basta. Você precisa saber fazer e saber qual a prioridade, e isso o governo não sabe.
O senhor acredita que será colocada em xeque a capacidade gerencial do PT de governar o País?
Sem dúvida nenhuma. O desejo de mudanças vai colocar isso no centro dos acontecimentos, agora, o que vai acontecer nas urnas só Deus sabe. Acredito que existe uma fadiga crescente do PT no País, agora é obvio que as pessoas vão julgar pelo que acham do governo do PT e a esperança em outra opção. Quer dizer, você tem que ser capaz de oferecer essa outra opção, se não as pessoas vão preferir ficar aonde estão.
Sobre a união entre a ex-senadora Marina Silva e o governador Eduardo Campos, líder nacional do PSB. Como o senhor viu essa junção de forças que até então não dialogavam com uma intensidade tão grande?
Eu vi com grande surpresa. Acho que surpreendeu a todos, o próprio Eduardo Campos. É o inesperado, e a história está cheia de fatos inesperados que na verdade mudaram o seu rumo. Agora, o que vai acontecer também não dá pra prever. Se alguém vier aqui dizendo pra você o que vai acontecer é porque está por fora. Ainda vão acontecer muitas coisas que ninguém está prevendo e eu não sei quais são essas coisas. Se eu soubesse elas não seriam inesperadas.
Isso vai influenciar na escolha do candidato do PSDB à Presidência?
Olha, são muitas variáveis. Como eu disse, é um debate que vai acontecer a partir de março, já que existe um acordo de que a definição aconteça a partir daí.
Caso a ex-senadora Marina seja a cabeça de chapa, há expectativa de que ela encarne o desejo das ruas de moralidade e de zelo com o dinheiro público. Por sua vez, Eduardo Campos assumiria a postura de gestor, que é o que ele agrega à própria imagem. O senhor acredita que isso dificulta para o PT e para o PSDB na eleição?
Eu não sei, porque depende de quem será o candidato, se o Eduardo mesmo ou a Marina , que é uma hipótese que se levanta. Vai depender também do transcurso da campanha, da sustentação, do desenvolvimento das imagens e das posições que se apresentam. Por enquanto, está muito no plano genérico. Isso vai ter que ganhar mais corpo ao longo de uma campanha. Se você me perguntar eu não sei o que vai acontecer com a aliança de Eduardo e Marina.
Qual o cenário que o senhor prevê para o Brasil em 2014?
Olha, vejo um cenário desgastante para a população. Não vejo a economia crescendo muito, não vejo a inflação caindo, o emprego crescendo fortemente, nem o consumo crescendo como estava no passado, mas também não estou vendo nenhuma queda de precipício. Eu acho que o quadro vai tender a ficar como está, só que levemente pior.
O senhor acredita que a estratégia do PT será colar a presidente Dilma na imagem do ex-presidente Lula?
Não tenho dúvidas. Se o Lula não for o candidato, porque pode ser também que ele seja o candidato do PT. Se o partido perceber que existe risco maior com a Dilma, não tenha dúvida que eles vão recorrer ao Lula, mesmo que ele não queira e a Dilma não queira. Agora, ela sendo candidata, eles vão recorrer ao Lula como principal cabo eleitoral. O Lula vai ter que explicar o que está acontecendo no Brasil, pois é um dos grandes responsáveis, porque ele fez a Dilma candidata e de certa maneira a elegeu, tendo que prestar contas disso
A presidente Dilma não tem densidade para mobilizar o País novamente?
A prova de que o PT acha o Lula fundamental é que ele está se tornando fundamental nesta campanha. Se a Dilma não precisasse, dispensaria essa mobilização dele.
Qual a estratégia principal do PSDB para se colocar como uma força viável para 2014?
A meu ver, é saber mostrar as causas da insatisfação que existe com relação à política, à economia, ao desenvolvimento do Brasil, ter a solução e convencer de que é capaz de fazer diferente.
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