MARINA É A CARA
Marcos Rolim
Conheci Marina Silva no início dos anos 80. Havia, ainda, uma ditadura no país e sonhávamos com a revolução socialista. Muito jovens e totalmente dedicados à militância, nos encontramos em reuniões onde usávamos codinomes. Fui saber que Marina era Marina, alguns anos depois. Com ela, havia um baixinho de bigode, figura cativante, de olhar compenetrado e voz pausada, que organizava a luta dos seringueiros no Acre. Os dois nos falavam da defesa “dos povos da floresta”. Ele foi assassinado em 1988 e seu nome verdadeiro era Chico Mendes. Desde aquela época, acompanho a trajetória de Marina com respeito e admiração. Se aceitar o convite do PV, Marina será candidata à Presidência da República, o que seria a melhor notícia da política brasileira nos últimos anos.
Consta que o PT está empenhado em convencer Marina a permanecer no Partido. Compreensível. Para o PT, o cenário ideal da campanha presidencial seria aquele onde houvesse uma dinâmica plebiscitária. Dilma seria, então, apresentada como a continuidade das políticas sociais do governo contra os riscos de um retrocesso. O que é bom para um partido, entretanto, nem sempre é bom para o país. Uma campanha presidencial confinada à polarização entre o PT e o PSDB será também uma campanha pequena diante dos desafios que precisamos superar. Marina representa a possibilidade de se colocar no centro da discussão política o tema do desenvolvimento sustentável, o que permitiria sintonizar o País com o debate sobre a utopia final, aquela que envolve a sobrevivência da espécie humana.
Ainda que a maioria de seus políticos não perceba, o Brasil já está no centro da polêmica mundial por conta da Amazônia. Nossos governos têm sido incapazes de formular projetos de desenvolvimento que não sejam devastadores do ponto de vista ambiental. A simples presença de Marina na disputa obrigará os demais candidatos a se posicionar com mais clareza sobre estes temas. Mas Marina pode – melhor do que ninguém – pautar questões difíceis para os partidos tradicionais, a começar pelo enfrentamento da barafunda ética em que a política brasileira se meteu – especialmente desde que seu mais importante partido de esquerda foi “reformado” pela tradição. Dilma e Serra não podem apresentar qualquer proposta de reforma política. Suas candidaturas são já a expressão de poderosas coalisões conservadoras e de máquinas eleitorais financiadas precisamente pelos interessados na manutenção do status quo. Não são iguais, por óbvio. Por aquilo que representam, Dilma e Serra estão em uma relação equivalente ao que expressam na política norte-americana democratas e republicanos. Mas se há alguém que pode ser o que Obama representou para os EUA, este alguém é Marina Silva.
Posso estar completamente enganado e não temos sequer pesquisas que permitam qualquer prognóstico. Penso, entretanto, que há um imenso vazio na política brasileira. Um espaço que nunca será preenchido por outro vazio, como com a idéia irresponsável do voto nulo que só piora as coisas, deixando a decisão nas mãos de quem tem menor senso crítico. O Brasil precisa de um projeto moderno e ético e do retorno da paixão à política, o que só pode ser traduzido por candidaturas muito especiais, dessas que fazem a gente se orgulhar ao votar. Anotem aí: Marina é a cara!
♦ Marcos Rolim é jornalista e ex-deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul
Nenhum comentário:
Postar um comentário