quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Campos faz Dilma e Aécio pisarem em terreno desconhecido na corrida presidencial

Para cientista político, governador de Pernambuco encarna a definição clássica de terceira via

O ano de 2014 pode reservar surpresas na corrida presidencial. O elemento novo da disputa é a entrada do ex-aliado do governo Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, na corrida pelo Palácio do Planalto. Com isso, tanto a presidente Dilma Rousseff, que tentará a reeleição, quanto o senador mineiro Aécio Neves, pré-candidato do PSDB, terão que pisar em um terreno ainda desconhecido. E, diferentemente das últimas quatro eleições, o cenário de polarização entre PT e PSDB está ameaçado. 
Na opinião do cientista político Humberto Dantas, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), ao contrário do que ocorreu nas últimas eleições, que se apresentaram bastante polarizadas entre PT e PSDB, Campos encarna a definição clássica da chamada “terceira via”, por isso se apresenta tão ameaçador para os planos dos dois partidos.
“Nos anos recentes, não tivemos nenhuma candidatura que representasse a terceira via e que tivesse uma estrutura de partido forte. Nas eleições passadas, Marina Silva se apresentou, mas com uma estrutura partidária muito frágil e com um discurso que não conseguiu evoluir para este ideal da terceira via”, destacou Dantas. “No caso de Eduardo Campos, essa estrutura partidária existe e é crescente. O PSB foi o partido que mais cresceu de 2000 a 2012. O partido também governa estados e capitais importantes”, lembrou.
Outra característica apontada na candidatura de Eduardo Campos e que define melhor sua posição de terceira via, na opinião de Dantas, é que ele consegue se posicionar entre as candidaturas de Dilma e de Aécio. Isso fica bem claro nas aparições de Campos em 2013.
“Uma hora ele janta com Aécio, fala sobre a necessidade de se construir um novo pacto federativo. Outra hora, ele recebe Dilma em Pernambuco e diz que o PT fez muito pelo Estado. Ele se diz amigo do Lula e que conversou com Lula sobre sua candidatura. Neste ambiente, ele terá a chance de construir um discurso que seja mais próximo de um ou de outro e causar alguma surpresa nas eleições”, analisou Dantas.
Críticas à polarização
Os mais próximos de Eduardo Campos não escondem a intenção de explorar pontos negativos dessa polarização clássica entre tucanos e petistas ao longo dos anos. “Vamos apresentar uma terceira forma de pensar e a crítica a essa polarização, com certeza, estará no discurso de Eduardo na campanha”, prevê o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
A campanha de Eduardo Campos terá críticas aos dois lados, mas também momentos para enaltecer bandeiras do PT e do PSDB. Um exemplo disso será o elogio à estabilidade econômica alcançada nos governos tucanos com o Plano Real e o resgate social feito pelas políticas públicas implantadas pelos governos petistas.
No entanto, como proposta de sua campanha, Campos quer oferecer soluções para as dificuldades das grandes cidades, como mobilidade e infraestrutura. Com este tema, a campanha espera dialogar com as manifestações de rua que tomaram as principais cidades do país em junho de 2013. “Nós achamos que as manifestações de junho estarão nas urnas”, destacou Delgado.
Oposição
Já no campo tucano, a dificuldade para construir um discurso que tenha apelo popular e que fale realmente como oposição tem sido externada a cada aparição de Aécio Neves. Para Humberto Dantas, o grande problema do discurso do PSDB é não ter criado elementos de uma “oposição ostensiva” ao longo de todo governo petista.
“Não é porque um governo é bem avaliado que a oposição não precisa investir em algo que seja realmente diferente. O discurso do PSDB não pegou porque não foi claramente oposicionista. Na campanha do Serra, por exemplo, houve uma tentativa de se igualar ao PT, se colocar como popular. Neste contexto, houve a história da “laje fake” e tudo mais. A população, diante disso, preferiu votar no original”, analisou.
De acordo com pessoas próximas, o próprio senador já tomou consciência de que seu discurso terá que fazer uma “oposição autêntica” ao governo petista. “Não dá para fazer oposição pela metade. Isso a população não entenderia. Nós, do PSDB, temos uma concepção de Estado que é diferente da concepção do PT e isso será dito na campanha”, disse o deputado Mendes Thame, que deverá ser um dos coordenadores da campanha de Aécio em São Paulo.
A definição do discurso, de acordo com tucanos, está baseada em pesquisas qualitativas que demonstram que 60% das pessoas querem mudança. “Mudança é oposição”, comentou. “O discurso será de mudança e mudança é fazer oposição. Eu acho que, em algum momento da campanha o próprio Eduardo Campos também adotará um discurso mais oposicionista, já que a postura de situação será inócua”, analisou Thame.
Até o momento, Aécio tem sido criticado pela fala genérica. Os tucanos se defendem apontando esta fase do discurso como um “diagnóstico”, feito com base nos encontros que o senador realizou no segundo semestre de 2013 em todo país. “Depois, entraremos na fase das prescrições”, explicou Thame.

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