Está na hora de dar um basta neste circo que o prefeito Artur Neto está fazendo em relação a Manaus Ambiental. Não estou defendendo a concessionária de água de Manaus, mas tudo que está acontecendo hoje é fruto da administração Serafim Corrêa, mentor – guru do tucano Artur Neto.
“Não tem outra pessoa aí não, Carlos?”
Exatamente 13 segundos depois de levar ao ar a declaração do procurador Edmílson Barreiros Júnior, que dizia que a Justiça Eleitoral não pode se pronunciar sobre a acusação de que o prefeito Serafim Corrêa está fazendo propaganda enganosa (para não influenciar o julgamento do eleitor), a rádio CBN Iranduba se pronunciou sobre a acusação, para influenciar o julgamento do eleitor. E o júri da rádio bateu o martelo: Serafim está cometendo fraude eleitoral ao dizer que resolveu sozinho o problema.
O veredito também veio segundo após a reprodução do áudio com uma fala de Serafim, em que o prefeito diz que, diferente de todos os outros, teve a coragem de “começar a resolver, definitivamente, o problema de água da cidade”. O argumento de Amazonino, ou melhor, da CBN, é o de que Serafim está tentando enganar o eleitor, se apropriando de uma obra que não é sua. Não deixa de ser um progresso no discurso da imprensa, já que durante a campanha do primeiro turno a acusação era a de que Serafim não resolvera o problema. Hoje a acusação é a de que Serafim resolveu, mas não resolveu sozinho.
Quem vendeu Mateus que esperneie
A repactuação do contrato com a concessionária do serviço previu investimentos de R$ 160 milhões. As outras opções da Prefeitura eram a intervenção operacional na empresa (que duraria seis meses), a encampação da empresa (tomar de volta a concessão do serviço, com a Prefeitura tendo que pagar R$ 158 milhões para isso), ou a quebra de contrato, o que obrigaria a Prefeitura a desembolsar cerca de R$ 500 milhões – sem um centavo disto revertido em obras para resolver o problema.
Diante dos estudos que apontaram tais opções, o prefeito decidiu investir R$ 160 milhões nas obras das adutoras, dos poços, dos reservatórios, na Ponta do Ismael, em vez de desembolsar R$ 158 milhões sem instalar um metro sequer de tubulação na cidade. E foram muitos, muitos metros, mais precisamente 120km de novas redes de distribuição e 38km de adutoras. Foram 11 reservatórios, aumento de 40% na capacidade de bombeamento da Ponta do Ismael e dezenas de poços artesianos. 850 mil pessoas deverão ser beneficiadas com as obras.
Atenção ao tempo do verbo: “deverão”, a solução não está completa, ainda há gente sem água. São cada vez menos pessoas, tanto que a imprensa cidadã, combativa e aguerrida já tem dificuldades para encontrá-las nas ruas. Aqui vale perguntar: quem é o poder concedente do serviço de água em Manaus? A Prefeitura de Manaus. Quem tomou a iniciativa de refazer o contrato com a Águas do Amazonas? Quem acertou, cobrou, exigiu, acompanhou, inaugurou e fiscalizou cada uma das obras feitas para a melhoria do abastecimento de água na cidade? A Prefeitura de Manaus.
A melhor propaganda é a adversária
A rádio CBN Iranduba foi a responsável, junto a seus ouvintes, por uma das melhores peças de propaganda de Serafim no primeiro turno. No dia 17 de setembro, os jornalistas Ronaldo Tiradentes, Marcos Santos e Carlos Eduardo Souza foram às ruas dos bairros Mutirão e Cidade Nova, e entrevistaram moradores a esmo, sem prévia escolha. A intenção dos âncoras da emissora, um deles o chefe de redação do jornal Em Tempo -– que naquele dia publicara matéria dizendo que não havia água no núcleo 23 da Cidade Nova –- era justamente verificar as condições do abastecimento de água naquela área.
Foram entrevistados vários moradores, e todos disseram que tinham água em casa. Dona Selma, por exemplo, moradora da casa 30 da rua 248 (conforme a gravação do programa), disse: “Tá muito bom, muito bom mesmo!”. Ronaldo chegou a perguntar, aos 49’15” do programa: “Não tem outra pessoa aí não, Carlos?”. Carlos Eduardo Souza encontrou mais pessoas, e as respostas foram basicamente as mesmas — a diferença esteve no Mutirão, onde duas senhoras disseram que o abastecimento ainda não durava o dia todo.
Aqui, o áudio do programa com a reportagem-denúncia.
Já que tanto o jornal quanto o programa de rádio têm a participação dos mesmos jornalistas, fica a pergunta: O que deu errado? A matéria do Em Tempo ou a reportagem de rua da rádio CBN? Alguma coisa certamente deu errado, pois aquela feita ao vivo claramente desmentiu a da redação do jornal.
Com a palavra, Amazonino
No último debate do primeiro turno das eleições, na TV Amazonas, Amazonino Mendes elogiou a decisão do prefeito Serafim Corrêa (e não da Águas do Amazonas) de repactuar o contrato que previa o investimento de R$ 160 milhões na solução do problema. Óbvio que Amazonino não queria elogiar Serafim, Amazonino queria apenas não ter que enfrentar a máquina de Braga no segundo turno. Mas paciência, elogiou. Disse que a decisão do prefeito (e não da Águas do Amazonas) foi “inteligente”.
Uma pequena cronologia
Se fôssemos traçar uma “pequena cronologia” do problema da água em Manaus, seguindo o exemplo do imparcial Amazonas Em Tempo(não tem senha? use a minha: usuário “malfazejo”, senha “malfa666″), resumiríamos toda a história assim:
· A Cosama era conhecida pela má qualidade da água e pela falta dela. É verdade ou é mentira?
· Amazonino, Braga, Alfredo e Omar — até prova em contrário os ocupantes do poder nos últimos anos — concordaram que a Cosama devia ser vendida. Amazonino vendeu, e Omar, Braga e Alfredo assinaram. Na trilogia A Verdade da Água, durante sua campanha, Amazonino mostrou isso. É verdade ou é mentira?
· Depois dessa privatização, sob a prefeitura de Alfredo Nascimento e Omar Aziz (que, repito, concordaram com a venda da Cosama) nenhum centímetro de tubulação, nenhum joelhinho de meia polegada foi assentado em Manaus. Nenhum reservatório foi feito, nenhum poço artesiano construído. É verdade ou é mentira?
· Sob a administração atual, a Águas do Amazonas foi chamada pela Prefeitura (a trilogia de Amazonino não conta se outro prefeito fizera isso antes) para a repactuação do contrato, o que possibilitou que a Dona Selma e todos os outros entrevistados da CBN Iranduba dissessem, ao vivo, sem cortes, no dia 17 de setembro às 9h13: “tá muito bom, muito bom mesmo!”. É verdade ou é mentira?
· Hoje, durante os programas eleitorais (e não durante propagandas institucionais), Serafim afirma que teve a coragem de começar a resolver definitivamente o problema da água. Mas isso é verdade ou é mentira?
· O problema (pra aproveitar o assunto do momento) é o mercado. Manaus nunca teve água nas torneiras. Quando Serafim prometeu resolver o problema, em 2004, as ações do líquido na bolsa de esperanças do povo inflacionaram. Até ali, como ninguém prometia resolver o problema (nem resolvia), o povo não sabia que havia solução. Serafim foi cobrado, já que prometeu. Justíssimo.
· Hoje, com a Dona Selma, a Dona Maria, a Dona Maria do Carmo e as outras três senhoras entrevistadas ao vivo pela rádio dizendo “melhorou não, tá ótimo!” (está gravado), o valor das ações disparou, e todo mundo quer em casa essa jóia que poucos sabiam que tinham direito. E lembrar não ofende (ou ofende?): durante os governos e prefeituras de Amazonino, Braga e Alfredo, além dos vice-governos e vice-prefeituras de Omar, o povo já tinha direito a essa jóia, a água. Mas não a tinham. É verdade ou é mentira?
· Hoje Amazonino, Braga, Alfredo e — vá lá — Omar reclamam não mais de Serafim nem de sua iniciativa de enfrentar o problema, que repito, ainda não foi resolvido completamente. Eles reclamam é da Dona Selma, da Dona Maria do Carmo, que teimam em estar satisfeitas, indo contra tudo o que a boa imprensa de Manaus fala de Serafim. Paciência. Serafim começou a resolver, se ninguém resolveu antes, foi porque não quis.
É verdade ou é mentira?
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