É para colocar no currículo. Na sexta-feira 29 de feriado religioso, sem pressa de encontrar tema mais relevante, a mídia tradicional dedicou três editoriais à desconstrução de uma frase da presidente Dilma Rousseff – repita-se, três editoriais contra uma frase –, e pelo menos um artigo. Todo o pacote resumido na primeira linha do manifesto da Folha, no melhor estilo do concorrente Estadão:
- Foram lesivas à credibilidade da política econômica da presidente Dilma Rousseff suas declarações sobre inflação na cúpula dos Brics em Durban, na África do Sul. Reforçaram a percepção de que o governo federal não tem estratégia definida para lidar com os desafios da economia e do regime de metas inflacionárias (íntegra abaixo).
Foram lesivas para quem, camarada? Na repercussão concreta da taxa de juros futuros na Bolsa Mercantil & Futuros – o octógono do vale tudo financeiro --, na quinta 28, as taxas previstas caíram. Para a interpretação objetiva, de mercado, do dito antagonismo entre crescer economicamente e controlar preços, venceu a tese de que o primeiro plano não é incompatível com o segundo. Fosse diferente, muitos outros indicadores teriam despertado do marasmo dos últimos tempos, como a taxa de câmbio, os títulos da dívida brasileira, o volume de negócios na bolsa de valores nacional.
Nada houve, fora a espuma. Fazendo projeções obscurantistas, sem anotar as distorções do interesse da especulação, o plantão permanente dos predadores contrariados do mercado financeiro e, em especial, os números objetivos da economia, as publicações de papel das famílias Frias, Mesquita e Sirotski cravaram que o governo Dilma não tem compromisso com o controle da inflação. É falso.
Em Durban, diante dos líderes dos Brics, que genuinamente vêem no Brasil um modelo de desenvolvimento com democracia, Dilma apenas e tão somente reafirmou os compromissos de sua gestão, e do grupo político que representa, com o desenvolvimento. O crescimento, apontado para 3,1% para este ano, melhor resultado a ser alcançado no último triênio, é muito compatível com um mundo em crise. Absolutamente dentro das melhores previsões internas. E se soma, no ritmo já praticamente assegurado de subida de 1% no primeiro trimestre do ano, a taxas históricas de emprego de mão de obra e de superação coletiva da miséria.
O que colunistas como Miriam Leitão, na ortodoxia das páginas de O Globo, ou editorialistas tais quais os digitadores da Folha, Estadão e Zero Hora não medem é o cruzamento entre índices – talvez por inaptidião, certamente por má vontade. Os componentes de resgate social, de manutenção do emprego e de preservação do dinamismo da economia têm peso objetivo no julgamento dos índices de preços.
Tal qual a paz dos cemitérios, do que valeriam para os brasileiros comuns percentuais decimais – será isso? – como os prometidos por fórmulas mirabolantes dos ex-diretores do Banco Central Ilan Goldfajn e Alexandre Schwartsman, arautos do desemprego, ao custo de milhões de falências pessoais e familiares provocadas pela desocupação. Exibir um número bonito?
Não são feios, ao contrário, os números de inflação apresentados pelo governo Dilma. Nos dois primeiros anos, a soma das taxas de cada período de doze meses resultou em 6,19% -- contra 8,77% da resultante do mesmo IPC somado nos dois primeiros anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. Alegam ele e sua antiga equipe, como os economistas Pedro Malan e Armíno Fraga, que havia no período de 1995 a 2003 uma permanente crise internacional. E agora, nos últimos dois anos, por acaso assistiu-se a um filme diferente?
Em oito anos de gestão, para mostrar um número redondo, a administração FHC acumulou uma taxa inflacionária de 100,6%. Nos oito anos de governo do ex-presidente Lula e dois, até aqui, da presidente Dilma, pelo mesmo método de medição, a subida de preços foi de 74%. E em dez anos, não em oito, somente. São 24 meses de vantagem desperdiçada pela fórmula mágica da aliança político-midiática.
Abaixo, para os próximos editoriais, uma lembrança histórica da inflação entre 1995 e 2002, segundo os principais medidores:
Ano IGP-DI (FGV) IGP-M (FGV) IPC (FGV) INPC (IBGE) IPCA (IBGE)
1995 14,78 15,25 25,91 21,98 22,41
1996 9,34 9,20 11,34 9,12 9,56
1997 7,48 7,74 7,21 4,34 5,22
1998 1,70 1,78 1,66 2,49 1,65
1999 19,98 20,10 9,12 8,43 8,94
2000 9,81 9,95 6,21 5,27 5,97
2001 10,40 10,38 7,94 9,44 7,67
2002 26,41 25,31 12,18 14,74 12,53
Na média anual da inflação, os ultimos dois governos e o atual ficaram assim:
FHC 1 – 9,71%
FHC 2 – 8,77%
FHC 8 anos – 9,24%
LULA 1 – 6,43%
LULA 2 – 5,14%
LULA 8 anos – 5,78%
DILMA 2 anos – 6,17%
Nenhum comentário:
Postar um comentário