quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Dinossauros não eram verdes, apontam estudos sobre a visão dos animais

A clássica imagem do dinossauro verde ou cor de lama pode não corresponder à realidade de como eram vistos por algumas de suas presas, especialmente répteis, aves e peixes, cuja visão é denominada tetracromata (de quatro cores). Em relação à cor, a visão desses animais é mais avançada que da maioria dos mamíferos (dicromatas), dos humanos e alguns primatas (tricromatas).

A visão das cores diz respeito às células receptoras do azul, vermelho e verde. Na ausência de uma delas, como ocorre com cachorros e gatos, os animais enxergam em preto e branco. O mesmo ocorre com o boi. Já a cutia enxerga em cores, mas sem o vermelho.  Esse foi um dos assuntos abordados na palestra da professora doutora Silene Lima, da Universidade Federal do Pará (UFPA), uma estudiosa da neuroanatomia da visão dos animais. Silene Lima foi a 15ª palestrante do Ciência às 7 e meia, programa de popularização científica do Museu da Amazônia e Teatro Direcional.

Outro assunto abordado foi a teoria da evolução e sua relação com a visão dos bichos, pesquisada pelos cientistas Peter Ahnelt, austríaco, e Helga Kolb, americana, ambos da Universidade de Viena (Áustria), onde Silene concluiu o pós-doutorado e fez parte da equipe. O objeto de estudo foi a cutia amazônica. Silene explicou que os estudos com roedores da Amazônia indicaram que os hábitos dos animais estão diretamente relacionados com a sua capacidade de visão. Assim, diferentes quantidades de células receptoras são encontradas na retina da cutia, de hábitos diurnos, da capivara, mais ativa no final da tarde (crepuscular) e a paca, animal de hábitos noturnos.

Dois tipos de célula transformam estímulo luminoso em sinal elétrico enviado para o cérebro. Os bastonetes, relacionados a baixos níveis de luz, e os cones, mais estimulados em altos níveis de luminosidade, que também influem diretamente nas definições de cor. “Sem luz não há cor. Resumindo: os cones estão relacionados à visão diurna e os bastonetes, à noturna. É a quantidade relativa entre esses dois tipos de células dá a indicação dos hábitos do animal”, explicou.

Para garantir a sobrevivência das espécies, a natureza compensa deficiências com habilidades. Em relação aos humanos, a cutia tem uma visão com menor resolução e sem uma das cores, o vermelho. Mas os olhos lateralizados, embora impliquem na diminuição da visão em termos de profundidade, existem especialização no fundo da retina, em forma de faixa que concentra uma maior quantidade de receptores, tornando a visão do animal mais sensível aos movimentos ao seu redor. “Isso explica sua reação diante da aproximação dos predadores, por exemplo”, disse a cientista.

Já nos peixes essa faixa é vertical, o que explica a habilidade do animal em perceber os movimentos à flor d´água ou no fundo, principalmente do que pode ser alimento, presa ou predador. No tambaqui, por exemplo, os estudos revelam que a presença de chumbo na água diminui essa faixa, o que reduz a capacidade de reação do peixe a predadores, por exemplo. “Uma séria ameaça”, alertou a pesquisadora.

Em conjunto com outros cientistas, ela estudou, também, a anatomia da visão do gambá americano e animais da Amazônia, incluindo de primatas de hábitos diurnos e noturnos. Com relação aos insetos, Silene relatou estudos da professora doutora Dora Ventura, da USP, que pesquisa a visão das abelhas. Elas enxergam um espectro de cor invisível ao olho humano, ultravioleta. “O mundo é mais colorido para elas”, resumiu. 


As palestras do projeto Ciência 7 e meia estão disponíveis no canal do Musa no Youtube: www.youtube.com/museudaamazonia

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