MANAUS - Após desentendimento, dois escravos optam por resolver as diferenças lutando. Um tem mais sorte e acaba abreviando a vida do parceiro. O crime bárbaro chocou os moradores de Itacoatiara e não restou outra saída ao Judiciário se não recorrer ao apetite de carcará dos capatazes. A final, ele tinha que pagar.
Pensados no último desejo e a última frase que entraria pra história, um “alívio”. De última hora, a sentença foi revogada, e convertida em trabalho compulsório nas galés. No Amazonas foi assim, e um documento que data o ano de 1870, não nos deixa mentir.
Esse capítulo do Judiciário baré, somado a outros causos crueis ou mesmo pitorescos conhecidos mundialmente ficarão expostos no Museu Criminal do Poder Judiciário amazonense que será inaugurado dentro de um mês, em um prédio anexo ao do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), na avenida André Araújo, Aleixo
Se não fosse ordem do imperador Dom Pedro 2º alterar a pena tanto para escravos, como para os homens livres, o destino do escravo de Itacoatiara era um apenas: escalar os mourões e mergulhar para a libertação.
Uma réplica da força brasileira, que no século 19 estava presente em cada canto do país será exposta no chamado “Museu do Crime”. “Naquela época, as pessoas eram executadas exatamente assim. No Brasil não tinha cadafalso, como na França. Eram três mourões e o carrasco subia no ombro do executado para fazer força para quebrar o pescoço”, especifica o idealizador do projeto, o juiz Adalberto Carim Antônio.
Outro crime que entrou para história da capital foi o assassinato do jovem Delmo Pereira, 18, que confessou ter sido o algoz do motorista de táxi José Honório Alves da Costa, em janeiro de 1952. Delmo teve o corpo aberto ao meio em um matagal após ser capturado atrás do prédio do hospital Beneficente Portuguesa, no Centro. “Conta a história que ele era um cara bem afeiçoado, de noite ia aos lupanares da cidade e foi um dos primeiros consumidores de droga em Manaus. Na década de 1950, isso era uma coisa muito difícil. Foi linchado pelos motoristas de táxi e a associação dos estudantes começou a protestar porque ele era estudante”, afirma. Na época, a atrocidade assustou os moradores que evitavam inclusive sair de casa. “A população de Manaus ficou dividida. Minha mãe disse que as pessoas tinham medo de sair de casa”, lembra-se.
O julgamento que inocentou a dupla de pescadores Francisco Farias de Souza e Clovis Lopes Magalhães por usar dinamite na pesca, em 1959, também será exposto no museu. “O crime ambiental foi ignorado e eles acabaram sendo inocentados. Queremos mostrar a mudança de valores, mas, sobretudo, dar dimensão do judiciário que ainda é muito desconhecido pela sociedade”, disse
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