segunda-feira, 21 de março de 2011

Mudanças no sistema de transporte de Manaus beneficiariam, de fato, os donos de cinco empresas que atuam há anos na capital

Monica Prestes acrítica online

Uma quebra de contrato que pode resultar em R$ 500 milhões em indenização às empresas que atuam hoje no transporte público, nova licitação com a proposta de renovar o sistema e reajuste de até 25% na passagem de ônibus com o fim de benefícios como a tarifa social aos domingos.
Essas mudanças no falido sistema de transporte da capital vieram à tona para beneficiar os 15 milhões de usuários, segundo discurso do superintendente municipal de Transportes Urbanos, Marcos Cavalcante. Mas em inúmeras manifestações de reprovação, os usuários mostram duvidar disso.
Certo é que, aos sócios proprietários de cinco das oito empresas que atuam em Manaus desde 2007 e, juntas (as oito), somam mais de R$ 150 milhões em dívidas com a prefeitura só em Imposto Sobre Serviço (ISS), as mudanças prometem ser lucrativas. É que esses seis empresários também são donos de cinco das nove empresas que vão atuar no “novo” sistema, por serem vencedoras da última licitação.
Durante o criticado processo de licitação, Cavalcante afirmou que três das empresas da Transmanaus, que gere o sistema hoje, se desligaram do consórcio para participar da nova licitação: City Transportes, Líder Transportes e Via Verde. O que ele não disse é que os sócios de outras duas empresas da Transmanaus, a Viação Ponta Negra e a Regional Transportes, também seguem no sistema.
Os irmãos Thiago e Raphael Ferreira, proprietários da Viação Ponta Negra, são os sócios da Viação São Pedro, uma das vencedoras da atual licitação. O outro é Paulo César Barreira, antes Regional Transportes que, agora, responde pela Expresso Coroado.
Na prática, eles “fecharam” as empresas que compunham o consórcio Transmanaus e deviam à prefeitura para “abrir” outras, com nova razão social e sem dívidas.
Os outros três empresários são “figurinhas carimbadas” no transporte da capital. Carmine Furletti é sócio da City Transportes, Paulo Eduardo de Oliveira é um dos proprietários da Via Verde Transportes e César Tadeu Teixeira responde pela Líder Transportes. Todas faziam parte da Transmanaus e devem continuar no sistema porque, segundo a prefeitura, se desvincularam do consórcio.
Os nomes dos seis empresários constam entre os sócios no contrato social da Transmanaus. E fontes de A CRÍTICA garantem: as outras quatro empresas do “novo” sistema - Global, Rondônia, Transtol e Nova Integração - têm por trás dos administradores os sócios proprietários das outras três empresas que atuam pela Transmanaus: São José e Transamazônia, de Assis Gurgacz e Rondônia, de Cláudio Flores.

Maior reajuste nos últimos seis anos

Caso a proposta técnica da SMTU para a nova tarifa de ônibus do transporte coletivo da capital, de R$ 2,80, seja acatada pelo prefeito Amazonino Mendes, este será o maior aumento percentual nos últimos seis anos - de 25% e o aumento acumulado desde 2005 será de 86% em relação ao valor da passagem cobrada até setembro daquele ano, de R$ 1,50.
Em setembro de 2005, a passagem de ônibus passou de R$ 1,50 para R$ 1,80, ou seja, 20%. No dia 1º de fevereiro de 2006, um novo reajuste de 11%, aumentando a tarifa para R$ 2, começou a vigorar. E até agosto de 2009 foi o mais longo sem reajustes.
Mas em agosto a tarifa voltou a subir 11%, desta vez para R$ 2,25. Em março do ano passado, a Justiça ainda chegou a baixar o valor da passagem para R$ 2,10, mas depois o preço voltou aos R$ 2,25, praticados até hoje.

Maioria mora em outros estados

“Se você não mora em Manaus, sinto muito. Você não conhece nossa cidade”. A frase é do sócio da City Transportes, Carmine Furletti, a um jovem de Guarulhos (SP) que estava na última audiência sobre o reajuste da tarifa, dia 18.
Furletti se irritou com o rapaz, que criticou os interesses dos empresários. O que chama a atenção é que dez dos 11 empresários que comandam o transporte público da capital hoje não residem em Manaus.
Uma maioria de mineiros, dois cariocas, um paulista, um baiano e um paranaense. Todos - com exceção de César Tadeu Teixeira, que mora no Parque das Laranjeiras - têm endereço residencial em outros estados, segundo o contrato social da Transmanaus.
E cinco deles continuam no sistema. Thiago Silva, da São Pedro; Furletti, da City; Paulo César Barreira, da Expresso Coroado; e Paulo Eduardo Oliveira, da Via Verde, moram em Minas Gerais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário