Monica Prestes acrítica online
Uma quebra de contrato que pode resultar em R$ 500 milhões em indenização às empresas que atuam hoje no transporte público, nova licitação com a proposta de renovar o sistema e reajuste de até 25% na passagem de ônibus com o fim de benefícios como a tarifa social aos domingos.
Essas mudanças no falido sistema de transporte da capital vieram à tona para beneficiar os 15 milhões de usuários, segundo discurso do superintendente municipal de Transportes Urbanos, Marcos Cavalcante. Mas em inúmeras manifestações de reprovação, os usuários mostram duvidar disso.
Certo é que, aos sócios proprietários de cinco das oito empresas que atuam em Manaus desde 2007 e, juntas (as oito), somam mais de R$ 150 milhões em dívidas com a prefeitura só em Imposto Sobre Serviço (ISS), as mudanças prometem ser lucrativas. É que esses seis empresários também são donos de cinco das nove empresas que vão atuar no “novo” sistema, por serem vencedoras da última licitação.
Durante o criticado processo de licitação, Cavalcante afirmou que três das empresas da Transmanaus, que gere o sistema hoje, se desligaram do consórcio para participar da nova licitação: City Transportes, Líder Transportes e Via Verde. O que ele não disse é que os sócios de outras duas empresas da Transmanaus, a Viação Ponta Negra e a Regional Transportes, também seguem no sistema.
Os irmãos Thiago e Raphael Ferreira, proprietários da Viação Ponta Negra, são os sócios da Viação São Pedro, uma das vencedoras da atual licitação. O outro é Paulo César Barreira, antes Regional Transportes que, agora, responde pela Expresso Coroado.
Na prática, eles “fecharam” as empresas que compunham o consórcio Transmanaus e deviam à prefeitura para “abrir” outras, com nova razão social e sem dívidas.
Os outros três empresários são “figurinhas carimbadas” no transporte da capital. Carmine Furletti é sócio da City Transportes, Paulo Eduardo de Oliveira é um dos proprietários da Via Verde Transportes e César Tadeu Teixeira responde pela Líder Transportes. Todas faziam parte da Transmanaus e devem continuar no sistema porque, segundo a prefeitura, se desvincularam do consórcio.
Os nomes dos seis empresários constam entre os sócios no contrato social da Transmanaus. E fontes de A CRÍTICA garantem: as outras quatro empresas do “novo” sistema - Global, Rondônia, Transtol e Nova Integração - têm por trás dos administradores os sócios proprietários das outras três empresas que atuam pela Transmanaus: São José e Transamazônia, de Assis Gurgacz e Rondônia, de Cláudio Flores.
Maior reajuste nos últimos seis anos
Caso a proposta técnica da SMTU para a nova tarifa de ônibus do transporte coletivo da capital, de R$ 2,80, seja acatada pelo prefeito Amazonino Mendes, este será o maior aumento percentual nos últimos seis anos - de 25% e o aumento acumulado desde 2005 será de 86% em relação ao valor da passagem cobrada até setembro daquele ano, de R$ 1,50.
Em setembro de 2005, a passagem de ônibus passou de R$ 1,50 para R$ 1,80, ou seja, 20%. No dia 1º de fevereiro de 2006, um novo reajuste de 11%, aumentando a tarifa para R$ 2, começou a vigorar. E até agosto de 2009 foi o mais longo sem reajustes.
Mas em agosto a tarifa voltou a subir 11%, desta vez para R$ 2,25. Em março do ano passado, a Justiça ainda chegou a baixar o valor da passagem para R$ 2,10, mas depois o preço voltou aos R$ 2,25, praticados até hoje.
Maioria mora em outros estados
“Se você não mora em Manaus, sinto muito. Você não conhece nossa cidade”. A frase é do sócio da City Transportes, Carmine Furletti, a um jovem de Guarulhos (SP) que estava na última audiência sobre o reajuste da tarifa, dia 18.
Furletti se irritou com o rapaz, que criticou os interesses dos empresários. O que chama a atenção é que dez dos 11 empresários que comandam o transporte público da capital hoje não residem em Manaus.
Uma maioria de mineiros, dois cariocas, um paulista, um baiano e um paranaense. Todos - com exceção de César Tadeu Teixeira, que mora no Parque das Laranjeiras - têm endereço residencial em outros estados, segundo o contrato social da Transmanaus.
E cinco deles continuam no sistema. Thiago Silva, da São Pedro; Furletti, da City; Paulo César Barreira, da Expresso Coroado; e Paulo Eduardo Oliveira, da Via Verde, moram em Minas Gerais.
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