O espetáculo ocorreu no Maracanã, onde a Seleção Brasileira se apropriou do estilo de jogar futebol dos atletas da Espanha e fez a plateia gritar “olé”. Os gols de Fred (2) e Neymar cravaram as lanças fatais no peito dos atuais campeões mundiais, garantiram a vitória por 3 a 0 e o quarto título de Copa das Confederações ao Brasil, também vencedor em 1997, 2005 e 2009.
Com a conquista, exatamente 11 anos após o pentacampeonato mundial de 2002, o técnico Luiz Felipe Scolari resgatou de vez a confiança da torcida local a uma temporada do Mundial de 2014. Também deu aos seus adversários a mensagem que queria: os verdadeiros toureiros do futebol são brasileiros (apesar da 22ª colocação no ranking da Fifa), e não espanhóis. Do outro lado, o colega Vicente del Bosque tentará recuperar a sua equipe de um raro tropeço contundente desde os triunfos na Copa do Mundo de 2010 e nas Eurocopas de 2008 e 2012.
Justamente por esses últimos títulos, era a Espanha a favorita a tourear no Maracanã neste fim de semana. Não foi o que se viu. Acuados pelo apoio de milhares de torcedores, os visitantes não resistiram à pressão do Brasil, que abriu o placar logo no princípio, ampliou ainda no primeiro tempo e sacramentou o resultado no segundo, com direito a pênalti perdido por Sergio Ramos e a Piqué expulso. No final, só faltou o público cantar “Touradas em Madri”, sucesso na voz de Braguinha, como havia feito quem presenciou a goleada por 6 a 1 sobre os espanhóis no antigo Maracanã, em 13 de julho de 1950.
O jogo – Cantar o Hino Nacional Brasileiro à capela, após o sistema de som do estádio interromper a música prematuramente, já era um protocolo das partidas da Seleção na Copa das Confederações. No Maracanã, no entanto, jogadores e torcedores não somente reproduziram que o Brasil é “gigante pela própria natureza”. Os versos foram berrados, como se houvesse um exército vestido de amarelo dentro e fora de campo.
Foi com esse ímpeto bélico que a Seleção Brasileira iniciou a partida contra a Espanha. O resultado de tamanha disposição não poderia ter sido melhor. Logo no primeiro minuto de decisão, o forte Hulk avançou pela direita como um tanque de guerra e fez o cruzamento. Os defensores espanhóis Piqué e Arbeloa se assustaram com as presenças de Neymar e Fred na disputa de bola. O último deles, mesmo caído, empurrou para a rede.
O gol foi como uma bomba, capaz de fazer o Maracanã explodir de felicidade. Fred, o estopim da alegria, não resistiu e correu para os braços da torcida. A euforia regada à cerveja, que respingava para todos os lados a cada salto do público, atrasou o reinício da partida e pareceu deixar a Fúria ainda mais nervosa. Muitos dos espanhóis observavam a festa para a qual não tinham sido convidados com expressões sisudas e as mãos na cintura, em um prenúncio do que estava por vir.
Cabia à Seleção aproveitar o momento para inverter papéis com a Espanha. Acostumado a fazer os seus rivais correrem atrás da bola, o time campeão do mundo claramente tinha dificuldades para envolver o Brasil. Eram os donos da casa que trocavam passes até dentro da área. Como aos sete minutos, quando o meia Oscar recebeu um toque de calcanhar de Fred, ergueu a cabeça e bateu rasteiro, quase no alvo.
A superioridade brasileira se configurava de tal forma que os torcedores já não se importavam mais com os caros assentos do Maracanã. Estavam todos de pé, agitando camisas para avisar que “o campeão voltou”. O volante Paulinho foi mais um a se empolgar com aquele clima: pressionando a saída de bola espanhola, fez um desarme e mostrou ousadia para tentar encobrir Casillas. O goleiro hesitou, mas andou para trás para defender e evitar o segundo gol do jogo.
A ainda mais furiosa Espanha decidiu, a partir de então, não dar novas brechas para a Seleção. A qualquer custo. Neymar foi lançado em velocidade aos 15 minutos e acabou derrubado com vontade por Arbeloa – desta vez, o astro do Barcelona nem precisou enfeitar a sua queda no gramado. Fred queria o cartão vermelho para o oponente, já que via uma chance clara de gol naquela jogada, e usou a sua afoiteza exagerada para peitar alguns espanhóis.
Com o Brasil dando os seus primeiros sinais de que também poderia ser suscetível à pressão negativa de jogar em um Maracanã lotado, a Espanha finalmente começou a se organizar. Trocou passes sob vaias, sem atingir sucesso na tentativa de furar o grande bloqueio brasileiro. Por isso, Iniesta abdicou das suas características e clareou para finalizar de longa distância. O goleiro Júlio César trabalhou (bem) pela primeira vez e saltou no canto para espalmar.
O anseio da Espanha de atacar abriu bons espaços para a Seleção Brasileira responder. Foi por esses buracos que os atacantes de Felipão continuaram a incomodar Casillas, que viu uma conclusão cruzada de Fred e uma muito forte de Hulk, em bola rolada em cobrança de falta, irem para fora. O centroavante teve uma oportunidade ainda melhor aos 31 minutos, quando Neymar o deixou à frente da meta, com maestria. Ele bateu em cima do goleiro.
Mas não eram apenas os atacantes do Brasil que estavam em alta naquele primeiro tempo. Os zagueiros também. Aos 40 minutos, a Espanha viu em um clarão do lado direito a sua grande chance de anotar um gol. Pedro correu com extrema liberdade para a área, ajeitou o corpo e finalizou cruzado. Quando ele já se preparava para comemorar, David Luiz deu um carrinho para afastar a bola e ser ovacionado por todo o público do Maracanã.
O “gol” de David Luiz não foi o último da etapa inicial. Aos 43 minutos, Neymar tocou para Oscar na entrada da área e recebeu de volta, na ponta esquerda. O dono da camisa 10 (provando que Felipão fez justiça ao lhe dar o número) acertou um chute alto contra um já abatido Casillas e ampliou o marcador. Foi o último ato de um primeiro tempo dos sonhos para a Seleção Brasileira, que se dirigiu ao vestiário sob os gritos de “pentacampeão”.
Tentando dar sobrevida para a Espanha, Vicente del Bosque recorreu à entrada de Azpilicueta no lugar de Arbeloa no intervalo. Não adiantou. Já no segundo minuto, Hulk fez um passe rasteiro, e Neymar deixou a bola passar. Fred arrematou cruzado, de primeira, e colocou a bola no canto para marcar o terceiro gol do Brasil em uma aula de futebol para os campeões mundiais. A torcida apregoava a lição em música: “Quer jogar? Quer jogar? O Brasil vai te ensinar!”
Todo aquele clima de guerra criado antes da decisão, portanto, já havia dado lugar a um entusiasmo sem limites dos brasileiros. Entre os espanhóis, as substituições foram de nomes: Mata e Fernando Torres acabaram trocados por Jesús Navas e David Villa no decorrer da etapa complementar. O que não mudou realmente foi o panorama da partida. Nem mesmo quando Marcelo tentou desarmar Navas dentro da área e cometeu o pênalti, segundo o árbitro holandês Bjorn Kuipers.
Como o Brasil tinha domínio absoluto do jogo, a torcida não se abalou com o pênalti a favor dos visitantes. Ao contrário. Passou a reverenciar Júlio César, lembrando da defesa que ele fez em penalidade cobrada pelo uruguaio Diego Forlán nas semifinais. Neste fim de semana, o goleiro nem precisava ter pulado no canto certo para espalmar. Sergio Ramos se encarregou de bater para a linha de fundo, aos nove minutos.
O erro de Sergio Ramos enterrou definitivamente qualquer esperança da Espanha em reviver um Maracanazo uruguaio. Aquela praça de touros era legitimamente brasileira, conforme os torcedores avisavam em coro. Piqué entendeu a mensagem aos 22 minutos, quando derrubou o rápido Neymar (seu futuro companheiro na Espanha) e recebeu o cartão vermelho. Saiu de campo cabisbaixo, enquanto a plateia debochava ao berrar o nome da cantora Shakira, sua namorada, que era focalizada pelos telões do Maracanã.
Com um jogador a mais, o cenário ficou ainda mais perfeito para o Brasil tourear dentro de casa. Os espanhóis corriam, confusos, atrás da bola Cafusa enquanto os torcedores entoavam novamente o Hino Nacional Brasileiro. Felipão aproveitou para mandar Jadson a campo pela primeira vez, na vaga de Hulk, e tirar os também ovacionados Fred e Paulinho para as entradas do predestinado Jô e de Hernanes. Mas ninguém mais queria marcar gols àquela altura. Os tetracampeões da Copa das Confederações preferiam trocar passes ao som de “olé”, como um dia fizeram os espanhóis.
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